domingo, 25 de novembro de 2012

Pai e filho





Meu pai está tão velhinho
Tem a mão branca e comprida
Parecendo a sua vida
Longa vida que se esvai
E eu o lembro quando moço
De uma atlética altivez
Ah! Tinha força por três!

Você se lembra papai?
Menino ouvia dizer
Que você era um gigante
Eu ficava radiante
E também me agigantava
Porque toda madrugada
Eu quentinho no agasalho
Ao sair para o trabalho
O gigante me beijava

Sua grande mão de ferro
Parecia leve, leve
Naquela carícia breve
Que da memória não sai
Depois… um beijo em mamãe
E o meu gigante partia
E a casa toda tremia
Com os passos de papai

Mas agora o seu retrato
Muito moço, muito antigo
Se parece mais comigo
Do que mesmo com você
Você já lembra vovô

E, à medida que envelhece
Papai, você se parece
Com mamãe, não sei por quê
Você se lembra papai?
Quando mamãe, de repente
Caiu de cama, doente
Era o pai quem cozinhava
Tão grande e desajeitado
A varrer… Quando eu o via
De avental, papai, eu ria
Eu ria e mamãe chorava

Eu quis deixar o ginásio
Para ganhar ordenado
Ajudar meu pai cansado
Mas tal não aconteceu
Papai disse estas palavras:
“Sou um operário obscuro
Mas você terá futuro
Será melhor do que eu”

Eu? Melhor que este velhinho
A quem devo o pão e o estudo?
Que é pobre porque deu tudo
À Família, à Pátria, à Fé?
Meu pai, com todo o diploma
Com toda a universidade
Quisera eu ser a metade
Daquilo que você é

E quero que você saiba
Que, entre amigos, conversando
Meu assunto vai girando
E no seu nome recai
Da sua força, coragem
Bondade, eu conto uma história
Todos vêem que a minha glória
É ser filho de meu pai

Um dia eu fui tomar banho
No rio que estava cheio
Quando a correnteza veio
Vi a morte aparecer
Papai saltou dentro d’água
Nadando mais do que um peixe
Salvou-me e disse: “Não deixe!
Não deixe mamãe saber"

Assim foi meu pai, o forte
Que respeitava a fraqueza
Nunca humilhou a pobreza
Nunca a riqueza o humilhou
Estava bem com os homens
E com Deus estava bem
Nunca fez mal a ninguém
E o que sofreu perdoou

Perdoa então se lhe falo
Daquilo que não se esquece
E a minha voz estremece
E há uma lágrima que cai
Hoje sou eu o gigante
E você é pequenino
Hoje sou eu que me inclino
Papai… a bênção, papai!