quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

Vida Pelo Avesso

Deixe tudo como está
Faz de conta que não vai embora
De nós dois quem vai chorar
Sou eu agora

Amanhã é outro dia
E quem tem esta mania de amar igual a mim
Por maior que seja a queda
No amor jamais se entrega
Quando chega ao fim

Deixe tudo como está
Não precisa arrumar a casa
Vá sem pressa de voltar
Tem espaço pra soltar as suas asas

Não lamente a nossa vida
Se não foi tão colorida como eu imaginou
Foi tão linda no começo
Mas depois virou do avesso
E tudo terminou

Não vou dizer
Que a tua ausência não vai machucar
Que não vou morrer um pouco ao te perder
Que esse teu adeus não vai me derrubar

Prefiro assim
Do que ter você aqui nos braços meus
Sonhando com alguém que não sou eu
Amando que não sou
Querendo outra em meu lugar

História de Natal

Quando o sino repicando
Principia anunciando
Os festejos de natal
Me vem logo na lembrança
Os meus tempos de criança
Na história que eu vou contar

Pai Narciso era um velhinho
Que andava já arcadinho
Se escorando num cajado no chão
E tinha uma barba comprida bem branquinha
Que muito mais parecia um punhado de algodão

E trazia no ombro curvado
Um saco muito surrado
Que sua mão não largava
E era naquela sacola
Que ele guardava a esmola
Que povo sempre lhe dava

Por ali ninguém sabia
Quanto tempo já fazia
Que o velhinho apareceu
Naquele rosto enrugado
Naquele olhar tão cansado
Sua história ninguém leu

Só sei quando ele passava
A minha mãe me chamava
E me dizia contente:
Papai Noel vai passando
Seja bonzinho este ano
Que ele te traz um presente

Eu andava até doente
Maluco com a ideia quente
Por causa de um palhaço engraçado
Que eu enxerguei na vitrina
Numa loja lá da esquina
Num cordão dependurado

Quando natal foi chegando
Minha mãe foi me chamando
E meus irmãozinhos também
Me lembro, ela disse chorando:
Meus filhos eu sei que este ano
O papai Noel não vem

Só agora estou compreendendo
Eu era muito pequeno
9 anos ou pouco mais
Eu não tinha imaginado
Que um pai desempregado
Muito quer, mas nada faz.

Me lembrei de ir pra janela
Esperei passar por ela
Aquele velho arcadinho
Fui correndo pra calçada
Peguei sua mão enrugada
E lhe disse com carinho:

Pai Noel, eu sou bonzinho
Cuido dos meus irmãozinhos
Estudo minha lição
Não esqueça meu endereço
Papai Noel, eu sei que mereço
E o senhor foi sempre bom

Eu não quero pião nem bola
Nem trenzinho de mola
Nada disso eu vou querer
É só um palhaço de cordinha
Daquele lá da lojinha,
Só isso eu peço pra você

O velho não disse nada
Foi andando pela calçada
E foi embora sem se voltar
Mas por mim eu já sabia
Que o presente eu recebia
Quando chegasse o natal

Por fim o natal chegou
A minha mãe muito chorou
Quando foi pra nós deitar
E eu tava louco esperando
Que o dia fosse clareando
Pro meu palhacinho pegar

E quando o dia clareou
Na sandalhinha furada
Não tinha nem palhacinho
Nem nada
Pra consolar minha dor

Fiquei ali na janela
Esperando passar por ela
Aquele velho malvado
Talvez ele não soubesse
Que a criança nunca esquece
O presente desejado

Mas olhando na calçada
De frente a porta da entrada
Um vulto eu fui enxergar
Pai Narciso ali estendido
De frio tinha morrido
Bem na noite de natal

E atirado assim do lado
Tava o saco remendado
E o meu palhacinho engraçado
Num cordão dependurado
Tava preso na sua mão

E daquele dia em diante
Eu não pensei mais nenhum instante
Num presente receber,
É que garro me lembrar
Que foi na noite de natal
Que vi papai Noel morrer