quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Como a vida devia ser




Eu acho que o ideal seria que as pessoas nascessem velhas e morressem crianças. O homem nasceria com 90 anos, ia ficando mais moço, mais moço, até morrer de infância.

Nascendo com 90 anos, você aos 65 se casaria com uma mulher de 59, mas e a recompensa? A cada dia, a cada semana, a cada mês, ela ia ficando mais nova, mais nova, até se transformar numa gata de 20.

Entendeu? E, depois do casamento, vocês dois ficariam noivos, seriam namorados, até chegar ao amor infantil, branco e desinteressado... mãos dadas... (no máximo) e apagando das árvores, os corações entrelaçados.

Você nasceria rico, aposentado e sábio. Começaria a ganhar cada vez menos... até entrar para a Faculdade para ir desaprendendo tudo e ir ficando mais ingênuo e mais puro. Depois a bicicleta, o velocípede, desaprenderia a andar, esqueceria como engatinhar, o voador, o cercadinho... do cercadinho pro berço, as fraldinhas molhadas, três gotas de Otalgan para a maldita dor de ouvido, o chá de erva doce para a dorzinha de barriga...a mamadeira de água, o peito da mãe e, num dia qualquer, pararia de chorar.

Com o tempo correndo para trás, a humanidade regrediria nos séculos até aparecer o último homem: Adão. Último-primeiro quando então, pegando-o na mão, ao invés de soprar sobre ele Deus inspiraria o homem outra vez para dentro de si mesmo.


Chico Anysio

Amor e nostalgia






       Nós, eu e ela, sempre fomos perfeitos um para o outro. Diferente de todas as outras histórias de amores e relacionamentos o nosso foi inesperado, talvez por isso tivesse dado tão certo. Dizem que quando não esperamos nada de alguém, então nos surpreendemos com tudo que ela faz, e eu acho que foi exatamente isso que aconteceu, e que foi nos unindo aos poucos. Com o tempo fomos nos tornando mais que amantes, nos tornamos cúmplices de um amor verdadeiro e incondicional. Com a sua partida, percebi que além de ama-la, eu nos amava. Não nos amava tão somente pela grandeza do nosso amor, nos amava também pelo jeito que esse amor nos fazia agir, tolos e ao mesmo tempo intensos.
Amava o modo que ela me olhava por eu falar com alguma garota de que tinha ciúme. O seu rosto ficava ainda mais pálido do que já era e quando eu me aproximava novamente e lhe perguntava o que havia acontecido ela dizia:
       - Nada meu amor, porque teria acontecido algo? - E corava, como se tivesse vergonha do receio de me perder que estava estampado em seu rosto.
       Amava os domingos que eu ficava na sua casa, em que passávamos o dia inteiro jogando video-game com seu irmão mais novo. Quando eu falava que não me importava, de ficar assim o dia todo, ela dizia não acreditar, mas porque nunca entendeu meus motivos. Não me importava, pelo simples fato de estar ao seu lado. Claro que ficar sem beija-la quase que todo o tempo era indubitavelmente ruim, mas pra mim o que importava era só ficar perto dela e poder vê-la viver, o que na minha opinião, era o que ela sabia fazer de melhor.
       Ela me cativava com seu jeito meio mulher e meio menina, ingênua e ao mesmo tempo culpada. Culpada, principalmente, por arrancar meu coração do peito e leva-lo embora consigo, sem ao menos hesitar. Ela me conquistava com seus planos prontos da sua vida já planejada, e, o melhor de tudo, era ouvir ela falar sobre como nunca tinha esperado encontrar alguém e se apaixonar. Ela dizia:
       -Tu não estava nos meus planos, e nem esse amor que sinto por ti. Imprevisto, é isso que tu é na minha vida!
       O melhor imprevisto que podia ter acontecido.- E depois me beijava como que se quisesse se desculpar por me amar tanto. Esse era o seu pior defeito. Tudo o que ela fazia ou sentia, sendo bom ou ruim, se culpava por isso. Tinha medo do que os outros faziam, falavam ou pensavam em relação à ela. Mas, isso, na minha opinião, só a deixava mais doce e ingênua, e então, seu defeito se tornava uma das coisas que mais me chamava a atenção e me conquistava nela.
       Quando ela foi embora, dezenas de promessas foram quebradas, centenas de lágrimas foram derramadas e em milhares de pedaços meu coração foi partido. Quem sabe ela não soubesse, e agora nunca mais saberá, o quanto eu a amava, e, mesmo depois de tanto tempo sem vê-la, ainda posso ouvi-la dizer que me ama e que nada no mundo vai nos separar, o que por ironia do destino, me fez desacreditar.