quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Me faz rir!



Não sei bem por que, Senhor, essa manhã, ao rezar percebi de repente que nunca havia te imaginado rindo. Rindo com um riso amoroso cujo eco se propaga pela imensidão. Até os outros que o acolhem, ricos pela alegria oferecida. Te imagino sereno e, por vezes, discretamente sorridente, mas, sobretudo, sério e grave, às vezes até chorando, como eu está manhã. E tu sabes, Senhor, que fico contente por saber que Tu sim, soubestes chorar! Mas os teus evangelistas não acharam bom dizer-nos que um dia, em certa circunstância, Tu riu francamente, e isso é uma pena. Vejo-Te também, Senhor, belo, luminoso, fixado pela oração, ou com os olhos brilhando, condenando os hipócritas da moral e da religião. Vejo-Te também desfigurado, tremendo de solidão e de medo, ensanguentado pela tortura... Mas se arrebentando de rir... decididamente, não. E, contudo, tu rias, estou certo disso. Ainda que almas simples pensem, talvez, que isso não é conveniente!

Rias, criança, em Nazaré quando brincavas na praça com Teus colegas. Rias, adolescente, com os teus primos, ao voltar do templo. Rias com os teus discípulos, nas bodas de Caná da Galiléia
e cantavas, e dançavas se os outros dançavam. Mas depois... é difícil imaginar!... Tentei encontrar o por quê. Acho que descobri... Tenho falta de fé!

Sem muita dificuldade, eu creio que Tu és Deus. Teu Pai amou-nos tanto que nos deu você, para conhecer as verdades ocultas, estou certo disso, pois tu nos disse que, sozinhos, não podíamos crer. E eu agradeço a Ele esse presente maravilhoso que transforma minha vida. Mas confesso que não é fácil para mim crer que tu és homem.Não um super-homem, um homem, verdadeiro. E não vieste brincar de homem, disfarçado de homem, mas para fingires estar conosco, solidário com nossa vida. E, no entanto, Senhor, se às vezes me é difícil crer, quando medito este mistério apenas na minha "cabeça", ele se torna a mais maravilhosa novidade que me enche de gratidão e alegria, quando o contemplo em meu coração. Pois ele é, a meus olhos, a prova mais segura, mais perturbadora, de que tu nos amas acima de tudo e de que esse amor nos está próximo, tão próximo que nos toca, que afunda raiz em nós.

Nesta humanidade criada por Deus, mas tão longe, tão longe de Deus, se tu não tivesses vindo... Pois tu podias ter-nos amado lá do alto, Senhor, e enviar-nos um embaixador que viesse em teu lugar, mas tu te deslocaste pessoalmente. Podias ter vindo ao lado de nós, Tu, Filho de Deus, para nos arrastar e, para nós homens, te seguirmos. Mas tu viestes a nós, homem conosco, homem como nós, que nos tornamos irmãos. 

Irmãos do bebê que chorava e bebia o leite de sua mãe. Irmãos da criança que aprendia a ler, a rezar. Irmãos do homem que pregava tão bem... Tão bem que por isso morreu torturado, oferecendo a sua vida por nós. Irmão... Nosso irmão Jesus, que sabia chorar... e rir... Porque era homem... Que ideias loucas as minhas, Senhor! Mas pensar em ti tão perto de nós... Tão igual a nós, para que nos tornemos iguais a Ti, faz-me feliz, mas tão feliz que me admiro de não sermos mais. E sofro por nos ver demasiados, sérios quando falamos de Ti. E não compreendo que tenhamos ar triste quando nos reunimos para rezar a ti e oferecer contigo, ao Pai, o teu sofrimento... e as tuas lágrimas... as tuas alegrias... e o teu riso... a tua vida! 

Os homens a nossa volta acreditariam talvez mais em ti se fôssemos mais alegres e o demonstrássemos. Perdoa as minhas infantilidades, mas tenho vontade de Te dizer hoje, como as criancinhas sentadas no colo do irmão mais velho: "Me faz rir!" Sim, essa é a minha inesperada prece:
Senhor, faz-me rir!
Para que eu possa, a minha volta
Fazer rir meus irmãos
Eles precisam tanto do Teu riso!