segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Meninas



Elas viviam tristes como seus pais
Uma casa antiga e um pé de flor na porta
E elas soltas nos laranjais
No quarto o pai bebendo um barriu
Na sala a mãe rolando com um vadio
E elas ao relento, se encolhendo
Com febre e frio

Um belo dia se cruzaram em um bar
Timidez guardada em renda e chita azul
E ao se olharem aceitaram um desafio
E de repente em um sinistro rodopio
A sós se tocaram e mergulharam em um profundo vazio

Viveram então para sempre mais a sós
Ficaram desde ai, mais amáveis
Uma casa antiga assim como museu
E as meninas soltas em um mundo só seu
Dentro de um amor extremamente feroz
Buscando apenas sua própria paz

E ao entardecer de suas vidas
Um pacto fatal se fez
Meigamente, inquieto coração 
Uma casa antiga, alegre e avarandada 
Guarda suas meninas
Que ao olharem sua vida inteira, juntaram-se
Para nunca mais voltar...